
Os tempos são de novos projetos para o território, projetos simples mas inovadores, projetos que, tendo sempre o emprego como base, visam atrair pessoas por vias diferentes e Proença-a-Nova está a desenvolver um leque de ideias nesse sentido.
Se por um lado a pandemia trouxe aspetos negativos, João Lobo, presidente da câmara, sabe que também ajudou a mudar mentalidades e abriu novas janelas de oportunidade a territórios com pouca e dispersa população.
Neste concelho, que também vive de floresta, aproxima-se o tempo de mudar a paisagem. O processo será difícil mas exequível, considera o autarca, que tem na natureza, outra estratégia para, a nível turístico, atrair gente ao território.
Transcrevemos de seguida um pequeno excerto de uma entrevista mais longa que está disponível em Podcast. Para escutar clique AQUI
Rádio Condestável (RC): Há dois anos entrávamos num período de pandemia. Passado este tempo, o que foi e ainda está a ser feito em Proença-a-Nova?
João Lobo (JL): O concelho teve que, a curto prazo e numa ação imediata, resolver essa situação, muito ao nível da população mais fragilizada, IPSS e lares. As pessoas viram-se afastadas do contacto direto com os familiares e há que trabalhar agora nesse nível. Abrir oportunidade para a economia social criando valências novas.
RC: Como por exemplo?
JL: Ao nível da Santa Casa da Misericórdia de Proença-a-Nova com a aprovação do PARES II para um novo lar e também a candidatura que fizemos para o ex-Instituto São Tiago, em Sobreira Formosa, para lar residencial com cuidados de saúde e Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI). São respostas que surgiram relativamente a estes dois anos de pandemia.
Depois na educação, e no que às aulas diz respeito, verificamos que aulas à distância não é o melhor método e vamos dar um apoio diferenciado no âmbito de programa do Insucesso Escolar.
RC: E que avaliação faz destes dois anos?
JL: O concelho e o país saíram enfraquecidos em relação a esta pandemia. Traduziu-se na condição socioeconómica mas veio dar-nos a condição de tirar partido das novas tecnologias, ou seja, de nos aproximarmos de programas ao nível da saúde, da teleassistência, levando o acompanhamento aos que estão mais afastados dos núcleos centrais, tendo condições de, a nível da Unidade Local de Saúde (ULS), prestar um cuidado de saúde mais efetivo. Essa rede de solidariedade foi constituída, quase obrigatoriamente, por estarmos afastados e termos que chegar às pessoas, satisfazendo as suas necessidades primeiras, o que veio traduzir a importância desta ULS. São respostas que em territórios de baixa densidade, têm que se incentivar. Têm que se criar mais valências e competências. Não é a pessoa que se aproxima da administração, é a administração que tem que ir à pessoa. A pandemia veio-nos mostrar que há um trabalho grande a desenvolver.
RC: Com a implementação do teletrabalho, a pandemia também veio abrir janelas de oportunidade, trazendo gente ao interior. Sentiram isso?
JL: Sim. O teletrabalho é uma oportunidade. Para isso temos que ter telecomunicações que façam, em condições, a cobertura do território. Fizemos um protocolo com a Alice e que está em desenvolvimento. Os municípios e o Estado Central, com o leilão do 5G. Espero até 2025 ter 90% do território de interior coberto. Queremos antecipar algum tempo nisso pois, é através dessas vias que hoje se comunica, não desfazendo das outras vias de comunicação.
Ao nível das aldeias e da oportunidade de ocupação, temos o Programa de Revitalização do Pinhal Interior e há a possibilidade de desenvolver projetos que, nos concelhos, possam dar resposta à atração de talento e trabalho através do teletrabalho.
RC: Mas falta habitação para esta gente…
JL: Este PRR tem, ao nível do foco da habitação, o seu maior envelope financeiro. Os municípios têm a sua Estratégia Local de Habitação (ELH) quase pronta. Mas precisamos mais do que habitação digna. Elencado nessa ELH, só conseguimos fixar pessoas pela empregabilidade e assim temos que as ter em locais condignos.
Em Proença temos várias metodologias que estamos a tentar aflorar, ou seja, relativamente ao que são os meios humanos (emigrantes) que fazem parte da mão-de-obra na agricultura, na parte da fruticultura no Alentejo, temos que olhar para os emigrantes como uma oportunidade. Há uma grande massa humana que fica disponível numa grande parte do ano.
Há aqui uma oportunidade de olhar para o país e ver como podemos fixar essas pessoas, de os seus filhos estudarem e terem segurança. Elas podem fixar-se no concelho de Proença, mas também no Fundão, ou no Alentejo. É termos capacidade de ter um núcleo em que as pessoas se fixem mas, ao nível do trabalho, andem neste espaço territorial e sejam mão-de-obra indiferenciada, mas com o seu projeto de vida. Podemos fazer contratos de comodato com imóveis em que, em 30 anos fazemos o seu aluguer e temos isso disponível. É uma forma de os particulares verem o seu património requalificado e terem algum complemento, pouco (se o imóvel está devoluto e se fazem pouco ou nada dele não podem estar à espera de terem uma oportunidade de riqueza). A máquina está a andar mas temos que ser rápidos em relação a este pensamento. Estamos a fechar os processos para depois haver candidaturas ainda neste primeiro semestre.