
Hoje no programa da Rádio Condestável “Todos juntos no combate à pandemia", que conta com o apoio do Município da Sertã, sentimos os anseios e os receios no ensino secundário pela voz da professora do Agrupamento de Escolas da Sertã (AES), Teresa Patrício. Logo no início do ano houve a perceção de que “existiam várias lacunas devido ao confinamento do ano passado. Houve alunos que já não voltaram à escola e nos que voltaram, os conhecimentos adquiridos não foram muitos”, começa por referir esta docente, confessando que o modo de atuar no grupo de matemática, ao qual pertence, foi diferente do sugerido pelo Ministério da Educação, ou seja, em vez de, “nas primeiras semanas deste ano letivo, se fazer a cimentação dos conhecimentos no ano anterior, à medida que iam surgindo dúvidas relativamente às matérias passadas, faziam-se as respetivas revisões”, explica. Um modo de atuar tido em consonância com a direção do AES, por forma a “obter melhores resultados e um melhor sucesso para os alunos, sempre na esperança que não regressávamos a casa”, diz.
Mas a realidade é que alunos e professores regressaram a casa. Apesar de estarem todos mais adaptados, e após uma primeira experiência de aulas online, “não gostei e continuo a não gostar”, confessa a docente que partilha da opinião dos seus colegas de que o ensino à distância não substitui o presencial. “Quando estamos no presencial, olhamos para o aluno e apercebemo-nos, só pelo olhar, que o que transmitimos foi ou não foi bem esclarecido, e agora não”, ilustra. Teresa Patrício sente igualmente que “os alunos que se interessam e já perceberam que têm que estar com atenção e que fazer os exercícios que lhes propomos, esses vão conseguir ter sucesso. Agora os outros… há tanta coisa que os distrai. Às vezes chamamos e eles, estando lá, não nos ouvem. Esses, mais tarde vão sentir que não deviam ter feito o que fizeram”, explica, ciente de que é uma situação que não se consegue ultrapassar e que vai deixar marcas na sociedade.
Habituada a lidar com alunos mais velhos, esta professora sente que serão os mais pequeninos a sofrer mais no futuro e por isso concorda que o ensino, tendo por base estes confinamentos, se deveria reinventar por forma a lidar com as lacunas que agora surgiram. Os alunos que agora têm interesse e os que não o têm e que “são fruto de um ensino que não teve culpa das exigências, daqui a uns tempos vão estar integrados na mesma turma e, durante vários anos vamos ter que lidar com situações muito diferentes”, reforça, deixando ainda a ideia de que os alunos que tiveram um bom acompanhamento em casa, quer pelos pais, por irmãos mais velhos, ou outros familiares, irão “vingar. Os outros… veremos”, antevê, considerando que “talvez esta até seja a altura ideal para o nosso Governo mudar o nosso sistema de ensino, essencialmente para os exames, e os alunos serem só obrigados a fazer o exame à disciplina que lhes desse acesso à universidade”, reforça.
Regressando à escola em casa, Teresa Patrício, também mãe, explica que trabalhar num contexto de teletrabalho é difícil. No seu caso, após ter investido na aquisição de mais computadores, teve que reorganizar espaços domésticos por forma a que várias pessoas (ela e dois filhos) tivessem e dessem aulas através da internet, a qual foi distribuída por todos os cantos da casa “porque cada um ocupa o seu lugar e estamos os três a ter aulas completamente diferentes, conversamos, ouvimos e não nos podemos perturbar uns aos outros. Além disso não há horas para conversar ou estar com a família. O processo é complicado de gerir”, confessa.
A terminar, Teresa Patrício, sempre preocupada com os seus alunos, aconselha-os a descansarem para os exames. “Eles têm que saber gerir muito bem o tempo. Têm que ter calma com as aulas, com os computadores, com o cansaço”, diz, completando que todos os professores estão em contacto para decidirem o melhor para os alunos.