
As queixas sobre o estado da saúde no concelho da Sertã continuam e, desta vez, não se centram na extensão de saúde de Cernache do Bonjardim mas no próprio Centro de Saúde da Sertã (CSS), onde há utentes que não estão a conseguir marcar uma consulta para o seu médico de família.
À redação da Rádio Condestável chegou a queixa de dois ouvintes ou leitores que, no passado dia 29 de julho, tentaram marcar consulta no seu médico de família do CSS.
Um deles, para esse efeito, seguiu os procedimentos estabelecidos, ou seja ligou para o 274600800 para tentar a sua sorte. Acontece que só após 66 (sessenta e seis) chamadas telefónicas, energicamente feitas, é que conseguiu chegar à fala com alguém que o atendeu do outro lado. Solicitada a consulta para o seu médico de família, ficou a saber que já não havia consultas disponíveis para os próximos 15 dias, “nem para as pessoas que já lá estavam à espera no CSS desde as 6:00 da manhã do mesmo dia”, devido à indisponibilidade do médico. Foi-lhe aconselhado que tentasse novamente daqui a 15 dias pois talvez conseguisse. E outra solução não lhe foi indicada. Refira-se que o utente em causa necessita saber o resultado das suas análises, que estão já na posse do médico e mostrar outros exames para que lhe seja instituída, ou não, a necessária medicação, pelo que não considera como certa a opção de recorrer ao Serviço de Atendimento Permanente (SAP).
Além destes casos, a Rádio Condestável (RC) sabe que existem outros utentes com a mesma dificuldade em marcar consulta para o mesmo médico de família.
Condestável questiona ULSCB
Perante os factos, a RC tentou obter os devidos esclarecimentos por parte do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde de Castelo Branco (ULSCB) sobre o que se passa no CSS e se, eventualmente “está fechado para consultas de médico de família”.
Relativamente ao solicitado, a ULSCB informou que:
“1º - O Centro de Saúde da Sertã não está fechado para as consultas de médico de família.
Há no entanto fatores que podem contribuir, para a demora de marcação de consulta programada, para um determinado médico família:
- de uma forma geral: dimensão grande das listas de utentes atribuída a cada médico, o que acontece porque não há procura por parte de novos médicos às vagas postas sucessivamente aos concursos, e que são abertos ano após ano;
- atendendo ao contexto covid: médicos obrigados a ocupar parte do seu horário em outras atividades, como atendimento de suspeitos e doentes covid, e vigilância pós vacinal nos centros de vacinação;
- atendendo à época de férias que atravessamos: um determinado médico de família pode estar ausente, e portanto não pode prestar os cuidados específicos aos seus utentes, tendo estes que esperar que volte. É que médico de família de um utente há só um para cada um! A Medicina Geral e familiar é de proximidade e primeiro contacto de facto, mas tem outras caraterísticas também igualmente importantes, nomeadamente a Continuidade de Cuidados.
Por outro lado, as situações de doença aguda/urgentes são atendidas no Serviço de Atendimento Permanente (SAC), pelo médico escalado para o efeito (não o médico de família).
2º - As marcações de consulta são abertas na última semana de cada mês para o mês seguinte, em nº de 10 consultas presenciais por cada período (manhã ou tarde) do respetivo médico, com a duração média até 20 minutos. Para além destas são realizadas também Consultas Abertas pelo médico de família, também presenciais, solicitadas e agendadas no próprio dia, com duração média até 10 minutos, no número considerado possível.
São ainda realizadas nos mesmos períodos, consultas não presenciais como sejam as Telefónicas, ou outras para emissão de receitas, prescrição ou registo de exames, com duração média até 5 minutos, também segundo o que for possível ao médico de família do utente.
3º - Sem saber de que utente se trata não nos é possível determinar qual ou quais dos fatores acima referidos podem estar na base de algum constrangimento.
4º- Em relação ao atendimento telefónico neste Centro de Saúde, o mesmo tem sido sempre normal e não temos conhecimento de casos como este pelo que o encaramos como um caso esporádico. Tudo iremos fazer para não se repetir.
É nosso objetivo melhorar a qualidade de cuidados prestados pelos colaboradores da ULS de Castelo Branco, e que os mesmos sejam centrados no utente”.
Nota da Redação:
Perante as explicações dadas pela ULSCB, ficamos a saber que o facto de um utente não conseguir marcar consulta, e tê-la, para o seu médico de família num espaço de 15, 30 ou mais dias parece ser encarado como um facto “normal”, ainda que o médico esteja um mês de férias ou ainda mais tempo de baixa médica. Infere-se também que não será possível haver substituição desse clínico enquanto dura o impedimento. Ou seja, de uma forma geral ou parcial, não há mesmo consultas para todos, ainda que a ULSCB diga que o CSS não está fechado para consultas, respondendo a uma questão desta rádio.
E o facto de haver doentes (a RC sabe de pelo menos dois casos) que precisam de consulta não urgente no médico de família e não a conseguem, parece violar o Artigo 64.º da Constituição da República Portuguesa, no que respeita ao acesso aos cuidados de saúde.
Paralelamente, a Condestável sabe que vários utentes da Extensão de Saúde de Cernache do Bonjardim, pertencente ao CSS, inscreveram-se nos Centros de Saúde de Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande (distrito de Leiria) aqui ao lado e sentem-se muito bem. Será a debandada para outros locais onde tudo parece estar normal?
Perante uma situação deste tipo, constituindo-se como "representante" dos seus ouvintes ou leitores queixosos, a Rádio Condestável pondera solicitar explicações ao Ministério da Saúde, Gabinete do Primeiro Ministro, Grupos Parlamentares da Assembleia da República e Presidente da República Portuguesa. A seu tempo daremos conta dos esforços desenvolvidos.