As certezas que eu tenho e as que eu gostaria de ter

"A vivência da actual pandemia (SARS-CoV-2), vulgarmente conhecida por Covid-19, levou a que alguns articulistas tivessem descoberto, de repente, que “O mundo mudou”…

As certezas que eu tenho e as que eu gostaria de ter
Joaquim Filipe Patrício

Joaquim Filipe Patrício

"A vivência da actual pandemia (SARS-CoV-2), vulgarmente conhecida por Covid-19, levou a que alguns articulistas tivessem descoberto, de repente, que “O mundo mudou”…
Essa é uma certeza que eu tenho e, não é de agora, mais não fosse sustentada nos inúmeros factos que a história nos mostra e que tenho vivenciado desde que me conheço. O mundo mudou porque a vida não é estática… O mundo mudou, mas não mudou apenas com esta pandemia, nem tão pouco agora e apenas este ano, devido a tal acontecimento.

O mundo mudou com a actual pandemia, tal como mudou com a peste bubónica, com a peste negra, com a gripe espanhola, com o lançamento da primeira bomba atómica, com o HIV, com a globalização, com os movimentos activistas, operários, feministas e sociais, apenas para focar alguns dos momentos mais marcantes da história da humanidade.
Mas, mais do que esta certeza, o que eu acho que deveríamos todos tentar perceber, é de que forma é que o mundo mudou? Que consequências trará essa mudança? Qual a melhor forma de nos prepararmos e adaptarmos à medida que o mundo muda… 
Quanto a estas questões, confesso que já não tenho tantas certezas. Tenho apenas a convicção que os nossos comportamentos, decisões e atitudes é que irão determinar a construção do futuro próximo e que, quanto mais depressa nos adaptarmos, melhor preparados estaremos para acompanhar mais uma e, apenas, mais uma mudança, entre as inúmeras e constantes mudanças que o mundo nos trouxe e trará...
Por outro lado, já não tenho tantas certezas, quanto a de outros de que, por exemplo, a adesão da Sertã ao “Médio Tejo” foi a decisão mais correcta… 
Admito que possa ter sido mas… Muito longe, mesmo, muito longe de ter essa certeza.
Os nossos interesses, cultura, saúde, agricultura, turismo, floresta, são os mesmos dos concelhos do Médio Tejo? Possuímos alguma genética identitária que nos una aos concelhos de Alcanena, Constância, Torres Novas, Entroncamento ou Vila Nova da Barquinha?
Passámos a ter por esse facto, alguma centralidade ou “poder” decisório?
Na saúde, estamos ligados à ULS – Unidade Local de Saúde de Castelo Branco. A tutela das IPSS e Misericórdias está ligada ao Centro Distrital da Segurança Social de Castelo Branco. A coordenação da Protecção Civil está em Castelo Branco. 
Claro que tudo isto pode ser mudado, porque o mundo está em constante mudança. Mas temos a obrigação de questionar que consequências podem advir dessa mudança para a população de que fazemos parte. No que é que esta ou qualquer outra mudança, melhora as nossas condições pessoais e sociais.
Dado que não estou na posse de todos os dados, admito que a decisão de adesão ao Médio Tejo possa ter sido correcta… Mas, confesso que não tenho as certezas que outros possuem sobre esta matéria em concreto.
De igual modo, tivesse eu, tanta certeza, quanto a de outros, de que a cidade da Sertã é melhor que a vila da Sertã…
É inquestionável a posição de relevância e centralidade que a Sertã possui de há muitos anos a esta parte, comparativamente a todos os outros concelhos entre Coimbra, Castelo Branco, Tomar e Abrantes. Mas, tenho para mim a convicção… Apenas a convicção de que essa centralidade, só terá relevância, se enquadrada e articulada com esses mesmos concelhos, pois de outro modo, a Sertã, será sempre periférica a partir do centro…
E, quem nos visita são genericamente as mesmas pessoas que procuram lugares aprazíveis em qualquer outro local do nosso País. Aprazíveis, pela beleza e gosto da nossa gastronomia. Aprazíveis pela ordenação e brio dos arruamentos, passeios e arquitectura dos nossos lugares. Aprazíveis, pelo recato e o lazer que podem proporcionar as paisagens e percursos da nossa Região. Aprazíveis, pela oportunidade de crescer, enquanto indivíduos ao participar nos eventos culturais que proporcionamos… Se calhar, deveria ser este o desígnio que deveria mover o nosso concelho antes de se pensar em cidade.
Creio, no entanto, que não se deve descurar, igualmente, o factor psicológico resultante do facto de não existir qualquer cidade numa vasta região e que, essa circunstância, pode resultar numa dinâmica positiva para a mesma. Mas terá este aspecto, actualmente, a relevância necessária para que a Sertã, seja cidade?
No ano 2000 a Sertã tinha mais população, mais e maior relevância nos 

serviços públicos e um maior número de empresas apesar de com menos empresas, actualmente, conseguir criar maior valor acrescentado, pelo menos nas empresas não financeiras. 
Por outro lado, será que o facto de ser cidade, trará alguma diferença positiva que possa tornar-se uma mais-valia futura para a vila, para o concelho e para as suas gentes? 
Outros factores poderão e deverão ser ponderados e debatidos com os autarcas eleitos e com a “massa crítica” que o concelho possui. É perfeitamente normal que possa não haver consensos, mas é imperativo que haja debate e bom senso nas decisões que nos afectam a todos para o melhor ou para o pior. 
Por outras palavras, a Sertã poderá ascender a cidade ou manter-se como vila mas não apenas porque eu acho que assim deve acontecer.
É por essa razão que é fundamental questionar pois, pelo menos para mim, há certezas que me incomodam… 
Como me incomoda a passividade e a complacência com que se aceita o que nos impõem e a ausência de espírito crítico fora das orlas dos Partidos, do “sistema” ou dos interesses pessoais.
E, incomoda-me porque acredito que há imensa gente inteligente na nossa Região que poderia e deveria dar o seu contributo para que fossemos uma sociedade melhor. Mas tal como a situação pandémica em que vivemos, estarão certamente muitos deles, assintomáticos. 

Partilhar: