Consensos e Entendimentos

São importantes o contributo e a disponibilidade de todos. Ocasionalmente, há quem me interrogue sobre a pertinência e a oportunidade de alguns temas que invoco nas minhas intervenções na Assembleia Municipal.

Consensos e Entendimentos
António JL Simões

António JL Simões

Deputado Municipal pelo PSD

Não falo neles por vaidade ou sobranceria, mas porque entendo que devemos ser capazes de olhar um pouco mais além e antecipar os desafios que, enquanto comunidade, o futuro nos coloca. Creio que temos esse dever e, sobretudo, essa obrigação, enquanto eleitos, de perspetivar o dia seguinte e refletir sobre as implicações, positivas ou negativas, que daí advêm. Como dizia um conhecido filósofo norte-americano: “o meu interesse está no futuro, pois é lá que vou passar o resto da minha vida”. Vivemos tempos conturbados e plenos de incerteza e insegurança. O mundo já não é um local estável e previsível, de verdades imutáveis. Tudo se renova a grande velocidade e os desafios de hoje, como as alterações climáticas, os movimentos populistas ou a inteligência artificial, obrigam-nos a estar mais atentos e a encontrar respostas céleres. Nos meus discursos, já abordei temas estratégicos como a demografia, a interioridade, a gestão municipal ou o capital humano. Não tenho dúvidas de que estas reflexões são importantes, senão decisivas, para o bem-estar e desenvolvimento de um coletivo social, onde todos somos atores principais. Mas o bem-estar e o desenvolvimento da nossa comunidade implicam escolhas e a definição de um rumo. Para isso, são necessários consensos - a base de qualquer sistema democrático. Sei, por experiência própria, que os consensos são fundamentais ao desenvolvimento de uma sociedade. Não faltam exemplos de estados falhados ou ingovernáveis, quase sempre resultantes da incapacidade de encontrar plataformas consensuais. Quando falo de consensos não me refiro apenas a um conceito vago e cujo significado nos remete para a conformidade de juízos ou opiniões de uma maioria de indivíduos. Falo, sim, de uma noção clara e afirmativa de consenso, que exige compromisso e, sobretudo, uma maioria forte e sustentada.
Olhemos o Concelho da Sertã. Todos teríamos a ganhar, enquanto comunidade, se uma maioria sólida pensasse globalmente da mesma forma sobre questões chave da nossa comunidade. E nessa maioria estou a pensar numa base de 70% da população. Não estou a falar de ideias ou ideologias políticas. Estou a falar de consensos. Os grandes consensos são fundamentais ao progresso. A solidez desses consensos deveria ser capaz de inflamar a vontade de mudança e de procura das melhores condições de vida para todos.
Seria importante que, no nosso Concelho, existissem consensos sobre matérias estruturantes, como a demografia, o turismo, a cultura, o investimento, entre outros. Pelo menos 2/3 das pessoas deveriam ser capazes de partilhar uma visão de futuro para o seu Município e defender afirmativamente essa mesma visão, independentemente do seu partido político.

A felicidade e a qualidade de vida não têm partido. A incapacidade de gerar consensos tem-nos levado a enormes discussões, algumas delas movidas somente por questões ideológicas e que de nada têm servido. São discussões vazias e que, no limite, procuram apenas o bem-estar de alguns. Não estamos aqui para isso. Os consensos que defendo não são consensos de direita ou de esquerda. São consensos que incluem as forças de esquerda e de direita. Não pode haver incapacidade de consenso só porque se é do PS, do PSD ou de outro partido qualquer. Isso não pode nem deve ser decisivo. Já todos percebemos isso. Os nossos consensos deveriam ser imunes a sensibilidades políticas ou religiosas ou outras. Temos de ser capazes de produzir grandes consensos. Se 65 ou 70% da população do Concelho da Sertã concordar que o turismo deve ser um dos ativos estratégicos para o futuro do Município então apostemos e sigamos esse caminho num esforço coletivo. O mesmo se aplica caso a maioria concorde em que a aposta futura se deve centrar nos incentivos à fixação de população ou na construção de um museu ou de um centro de artes. Como se depreende, não defendo um regresso aos tempos do bloco central, nem defendo uma apologia em torno de uma qualquer geringonça política. Nada disso! Tudo o que defendo é a construção de consensos, esses sim, nos interessam a todos. Ao fim destes anos, é chegada a hora de Portugal, num plano mais geral, e da Sertã, num plano mais regional e local, discutirem seriamente os consensos que pretendem para o futuro. Estamos sempre muito focados na espuma dos dias e desvalorizamos aquilo que é essencial. No caso do Concelho da Sertã: que sociedade queremos para daqui a 20 anos? O que estamos a construir hoje? Para quem? São perguntas objetivas e porventura incómodas que precisam de resposta. Temos que estar disponíveis para trabalhar nessas respostas. São importantes o contributo e a disponibilidade de todos. Mas a solidez dos consensos, implica a existência de oposições assertivas e construtivas. Independentemente da sua expressão eleitoral, a opinião e a postura da oposição tem de ser válida, fundamentada e alicerçada em argumentos verdadeiros e substantivos. Não se pode dizer mal apenas porque sim, como tem acontecido tantas vezes no passado. Seremos nós capazes de conseguir estes consensos? Estaremos preparados para eles? É essa pergunta e esse desafio que deixo hoje perante todos vós e perante a nossa comunidade.

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