
Neste conceito da Rota da Estrada Nacional 2 (EN2) que continuamos a dar a conhecer, existem produtos que se vão somando para que o turista se sinta sempre atualizado. Um deles são os passaportes, documentos que se carimbam nos estabelecimentos que aderiram ao conceito e que, também assim, beneficiam com este projeto que tem na sua génese, a promoção turística dos 35 concelhos por onde esta estrada passa.
Com o objetivo de registar e identificar o turista da Rota da Nacional 2, a Associação de Municípios desta Rota criou um Passaporte que contém a identificação dos 35 municípios atravessados pela estrada. É um suporte considerado de vital importância, tanto para o seu possuidor como para os estabelecimentos aderentes, “porque coloca os utentes desta via no território ao longo dos 35 municípios por onde esta via passa, sendo certo que estes passaportes permitem que o viajante possa ir a um posto de turismo, ter conhecimento dos locais mais importantes a visitar naquele território, ao mesmo tempo que carimba o passaporte”, explicou Vítor Farinha, da Câmara Municipal da Sertã.
No caso deste concelho, este carimbo pode ser feito em 36 espaços, como sendo as unidades hoteleiras, nos espaços de restauração, nos parceiros que o solicitaram e nos vários serviços. Com esta iniciativa há a facilidade de, futuramente se recordar a viagem por aquela que é uma estrada única na Europa, sendo que “a vantagem de carimbar este passaporte permite que se criem dinâmicas comerciais, entre outras na área do merchandising ou dos produtos locais, já que as pessoas têm de se deslocar a estes espaços para receber o respetivo carimbo”, acrescentou.
Fazer interiorizar o conceito dos passaportes nos agentes locais foi um processo continuado, ao qual muitos aderiram pois “aperceberam-se que isso iria criar dinâmicas comerciais”, confirma, notando que quem carimba estes documentos nos concelhos todos, “fica com a história da viagem”, sendo igualmente um guia e uma agenda turística invejáveis. Podem ser carimbados em postos de turismo, cafés ou alojamentos, ao longo de todo o trajeto e “as pessoas, ao deslocarem-se aos locais onde estão os carimbos permite-lhes absorver alguma informação nomeadamente da natureza, praias fluviais, percursos pedestres, restauração, hotelaria e riqueza patrimonial, uma vez que em todo o comprimento do país a diversidade é tão grande que permite às pessoas descobrir em todos os territórios, todos os dias, coisas novas.
Raros são os que não encontram mais valias nesta rota que une diversos pontos num território abrangente e que abarca cerca de 750 mil habitantes, logo, “este é um projeto quer tem um impacto enorme no território uma vez que criou a maior comunidade em termos de área do país, não só em quilómetros como também em população”, sustenta ainda Vítor Farinha.
A economia que cresce nas pequenas localidades
Para os mais distraídos começa a ficar clara a importância desta estrada. No concelho da Sertã, a freguesia de Pedrógão Pequeno é a primeira do concelho a receber os turistas. Mesmo ali, de frente para o asfalto, está o café do Mercado Municipal e o proprietário José Capitão dá nota positiva ao projeto. “Agora o movimento está mais fraco, mas no verão, a afluência foi maior”, reconhece, animado pelas notícias da chegada da vacina contra a Covid-19. Espera-se que ajudem também a animar os próximos tempo. Quando ali param, os pedidos dos turistas mais frequentes são o do carimbo e de algum material de promoção.
José Capitão confessa-se uma pessoa privilegiada por estar à beira da N2 e assim ver passar gente a pé, de carro, de bicicleta mas, principalmente de mota. Interessa é passar, parar e ajudar na economia local e isso tem acontecido na Póvoa da Ribeira Cerdeira. No Café Ferreira, a proprietária Ilda Ferreira recorda outros tempos desta mesma via que, apesar de não trazer tantas pessoas como se gostaria, “ainda vai trazendo uma ou outra”. O projeto, diz, “é bom para toda a gente” e porque a esperança é a última a morrer e o projeto está no seu início, “ainda se verá muita gente na Póvoa”, acredita.
Tal como em Pedrógão Pequeno, o verão foi melhor do que agora. Em terras pequenas e despovoadas é bom sentir e perceber movimento.
Em Vale Cortiço, na freguesia do Cabeçudo, existe uma vontade acérrima de dar corpo e vida ao projeto. Margarida Leitão e o marido, são os proprietários do Bar Esplanada Vale Cortiço e não há dúvidas que estar de portas viradas para a N2 “é muito bom”. Desde que o projeto surgiu foram-se reinventando para que a rota ajudasse no negócio. “Aderimos ao grupo de motards. Temos tido muita gente a parar aqui”, confidenciou. Este foi um projeto que surgiu em boa hora. Ângelo Costa é o marido de Margarida, e tal como a sua esposa, também concorda que o tempo agora é mais calmo, mas no verão “tivemos muita gente e este projeto foi muito bom para o país, foi uma excelente ideia que tiveram para dinamizar o interior do país”, disse. Ali param novos, menos novos, mais e menos arrojados, visitantes a pé, de carro, de bicicleta ou de moto, grupos de franceses e espanhóis, com mais e menos idade mas sempre clientes “5 estrelas”. “Um dia destes atendemos um casal que vinha em lua de mel”, lembra Ângelo Costa.
Este é um turista que procura o que há de melhor no concelho com a gastronomia ou as paisagens no topo da lista. Os agentes locais são deveras importantes nesta Rota pois, conhecedores que são do território, podem, e devem, recomendar locais. Margarida Leitão nunca deixa de o fazer e “depois eles mandam mensagens a dizer que gostaram, a agradecer e a dizerem que querem repetir”, notou.
O projeto da Rota da EN, que pretende atrair turistas, reflete o seu aspeto positivo quando o visitante regressa uma segunda vez ou mesmo uma terceira vez.
A EN2 é um misto de emoções. De cada canto guarda-se um pormenor, fica uma história para contar, levam-se rostos, dão-se conselhos, deixam-se amizades mútuas. “Vão-nos mandando mensagens a deixar a sua experiência. É muito gratificante”, refere ainda Margarida Leitão.
Nunca como agora fez tanto sentido olhar esta estrada. Em tempos de desânimo, ela veio dar outra alegria e vida a estes territórios e espera-se que o futuro traga tempos melhores, assim haja mais publicidade ao projeto que, para Ângelo Costa, necessita de uma revisão na sinalização. “Fica muito a dever e ainda há muito a fazer. Chegam às rotundas e cruzamentos e não sabem para onde segue a N2”. Além das placas Ângelo Costa recomenda “um parque de caravanismo. Era algo que se deveria ter para que as pessoas aqui pudessem ficar”.
Vai-se percebendo, ao longo dos quilómetros, que esta é uma estrada de todos e para todos, que liga emoções, une sentimentos, encontra amizades e difunde conhecimentos. Se o turismo a eleva, a cultura dá-lhe um valor diferente e não menos especial. Autores escrevem-na, realizadores mostram-na em vídeo, fotógrafos perpetuam-na em imagens e de certo que pintores a ilustram com cores de sentir e de recordar.