
António José Simões, da Câmara Municipal da Sertã, foi quem assistiu à reunião de apresentação do mesmo. A Sertã acreditou desde o início que a Associação de Municípios da Rota da Estrada Nacional 2 (EN2) iria fazer a diferença.
Rádio Condestável (RC) – Ao contrário do que muitos vaticinavam, a Rota da EN2 tem produzido excelentes resultados e está a crescer de forma consolidada. Qual tem sido o segredo do sucesso?
António José Simões (AJS) - Não podemos falar propriamente de um segredo, mas sim de muito trabalho e de um enorme esforço por parte de todos os municípios envolvidos. Evidentemente que encontrar uma base comum entre os objetivos e sensibilidades de cada um dos municípios não foi tarefa fácil, porém todos perceberam as vantagens de estarem unidos e de criar economias de escala em torno da Estrada Nacional 2. Penso que a Rota da EN2 é um excelente exemplo de como o intermunicipalismo deve funcionar no nosso país. Queria também sublinhar a excelente relação entre todos os municípios envolvidos, que perceberam desde muito cedo, que havia muito a ganhar com este projeto, não apenas a nível turístico, mas também em áreas como a economia ou a cultura.
RC - Um dos aspetos atuais é a unanimidade deste projeto, mas nem sempre foi assim!
AJS - É um facto que existe unanimidade, mas permitam-me notar que ela é recente e que nem sempre assim foi. É importante lembrar – para memória futura – os que inicialmente olharam para este projeto e não lhe auguraram qualquer futuro ou até lhe apontaram críticas ferozes. Lembro, por exemplo, os que diziam que era impossível que 35 municípios se sentassem à mesma mesa e definissem um projeto conjunto. Felizmente enganaram-se e AMREN2 e a Rota da EN2 estão aí para o comprovar e também para comprovar o sucesso à volta desta ideia.
RC - A Sertã esteve, desde a primeira hora, no projeto da Associação de Municípios da Rota da Estrada Nacional 2. Que ambiente recorda desses primeiros tempos?
AJS - Costumo dizer meio a brincar que a Sertã esteve envolvida neste projeto desde o minuto zero e desde o km 345 (que é o nosso marco oficial). Estivemos nas reuniões preparatórias que deram origem à Associação, porque percebemos a validade deste projeto e as mais-valias que ele traria ao concelho da Sertã e a todos os municípios envolvidos. Acredito no trabalho que temos desenvolvido e, sobretudo, na vontade de levar por diante um projeto que é hoje uma marca de Portugal não só no país, mas também no estrangeiro.
RC - Como é que o projeto da Rota da EN2 tem sido percecionado pelos diferentes agentes do concelho da Sertã e pela sua população?
AJS - A reação da população e dos nossos empresários tem sido fantástica e unânime. O feedback que nos chega é o melhor e isso, aliás, é evidente nas conversas que temos, por exemplo, com os profissionais da restauração e da hotelaria. Mas não só, o impacto da Rota da Estrada Nacional 2 sente-se também noutras áreas de negócio, como o comércio. Além disso, a notoriedade da Sertã aumentou devido à Rota. São hoje muitos mais os que visitam o concelho por causa desta estrada e também os que aqui fazem as suas refeições ou pernoitam. Há um elemento fundamental que importa sublinhar e que é o facto de a Sertã estar praticamente no meio, em termos de distância, da Estrada Nacional 2. É mais um argumento a juntar a tantos outros.
RC - O que ainda podemos esperar da Rota da Estrada Nacional 2, no que diz, por exemplo, respeito à Sertã?
AJS - Este é um trabalho de longo-prazo, que não se deve compadecer com imediatismos e modas. Sabemos que hoje a Estrada Nacional 2 está na moda, mas também sabemos que temos de trabalhar pela sua sustentabilidade futura, enquanto produto turístico e elemento indutor de desenvolvimento. Esse é talvez o grande desafio que temos pela frente, embora o impacto que esta rota tem tido no estrangeiro augure um futuro bastante promissor. Acho que as pessoas não têm ideia da quantidade de artigos que são publicados semanalmente na imprensa estrangeira sobre a Estrada Nacional 2. No que se refere à Sertã, o Município está empenhado em trabalhar na consolidação desta rota e estamos a desenvolver alguns projetos locais que vão nesse sentido. Todavia, não me quero alongar muito sobre isso.
RC - A Sertã pertence ao conselho diretivo da Associação de Municípios da Rota da Estrada Nacional 2, o órgão mais importante desta entidade. É uma enorme responsabilidade?
AJS - Mais do que uma responsabilidade, é o reconhecimento de que o Município da Sertã é um parceiro válido e que trabalhou afincadamente pelo sucesso desta associação. Não gostamos de embandeirar em arco com esta situação, pois acreditamos que o facto de o Município da Sertã estar no Conselho Diretivo só aumenta a nossa responsabilidade e obriga-nos a estar muito atentos relativamente ao futuro. Agora, também não escondemos o enorme orgulho de estar num órgão de direção, onde têm assento mais quatro municípios.
RC – É um grande projeto de coesão territorial…
AJS – Este projeto turístico é a grande invenção, a lufada de ar fresco do turismo nacional nas últimas décadas. O turismo de Portugal percebeu isso, talvez desde a segunda hora/quilómetro 2, quando tentou entrar mais profundamente dentro desta ideia que os municípios registaram com agrado. Este é um projeto a desenvolver pelos municípios pois eles sabem o que querem e este projeto é inovador em ser liderado pelos municípios.
Este projeto é uma mais valia criada pelos municípios.
RC – Está confiante no futuro da associação e da Rota da EN2?
AJS - O trabalho que tem sido desenvolvido e os resultados até agora alcançados são o melhor indicador de que estamos no caminho certo. E nunca como aqui a expressão ‘caminho’ fez tanto sentido. Aproveito para desafiar todos aqueles que ainda não fizeram a Nacional 2 a faze-lo. É uma experiência única, ao longo de 739,26 km.
RC – Neste ano de pandemia, mais de 50 mil pessoas passaram no concelho da Sertã. O facto surpreendeu-o?
AJS – Por um lado sim, mas por outro não. Surpreendeu porque estamos todos confinados e a ideia base é que as pessoas não devem andar por aí. Não me surpreendeu porque a N2 é uma alternativa válida e segura. As pessoas viajam em família, solitariamente, atrevem-se e aí também se vê a valia desta estrada. É um projeto fantástico.
RC - A EN2 saiu de portas e frequentemente é tema em notícias no estrangeiro. O ano foi de pandemia e os de cá, saíram precisamente para cá. Aguarda-se um boom de estrangeiros para o próximo ano. A Sertã está preparada para que tal aconteça?
AJS – Eu diria que estamos preparados mas nunca estamos preparados para receber esses visitantes todos. É uma responsabilidade para a nossa comunidade. O carinho que as pessoas trazem na rota e o carinho e a atenção com que todos nós recebemos as pessoas é um bom indicador. Este é um projeto agradável e diria mesmo que, mais do que preparados, estamos ávidos para que isso aconteça.
RC - O sucesso da rota depende da forma como cada município interage com o projeto.
AJS – A Rota tem um projeto comum para todos, mas os municípios, por si só, também têm os seus projetos. A Sertã liga-se a Pedrógão Grande mas também se liga a Viseu. Temos aqui Vila de Rei mas também nos ligamos a Abrantes e Vila de Rei também se liga a Pedrógão. É claramente uma ideia inovadora. É um projeto que não tem obstáculos para que não dê certo. Claramente é um projeto ganhador.