SERTÃ/EN2: Caminhos que ligam e que unem : “Uma rota de sabores”

Hoje voltamos a fazer-nos à estrada para lhe apresentar alguns dos muitos locais de repasto.

 SERTÃ/EN2: Caminhos que ligam e que unem : “Uma rota de sabores”

Caminhar sem ter o estômago forrado dificulta o percurso e retira o ânimo necessário para apreciar o que de bom tem esta Rota da Estrada Nacional 2 (EN2). Hoje voltamos a fazer-nos à estrada para lhe apresentar alguns dos muitos locais de repasto. O doce e o tradicional e o acolhimento de quem bem sabe receber, convidam a uma paragem prolongada no concelho da Sertã.
Nunca como este ano, na altura do verão, se avistaram tantas motas estacionadas na Avenida Gonçalo Rodrigues Caldeira na Sertã. Os empresários locais não poderiam estar mais satisfeitos com o idealizar desta rota, nem nunca idealizaram que ela poderia trazer tantas coisas boas para os seus negócios, principalmente em ano de pandemia, confessa Aires Rodrigues, proprietário do Restaurante Lagar, na Sertã, situado no centro da vila, de frente para a N2. Este projeto “veio fazer com que toda esta zona do interior, lhe corresse mais sangue nas veias. Veio uma dinâmica muito grande na restauração”, sustenta, confessando que se não fossem os turistas da N2, “teríamos tido uma quebra grande no negócio”.
Nesta vila está o quilómetro 345, mesmo em frente à Casa da Cultura da Sertã. Alguns metros mais acima está a Mercearia do Largo, cuja proprietária Fernanda Marçal, também confessa que o afluxo de clientes este ano foi uma “surpresa pois não sabia o impacto que a rota iria ter, mas agora notamos muitos turistas. Este verão foi muito bom, como eu ainda não tinha tido. Desde que há seis anos que abri a mercearia, nunca tive tantas refeições”, lembra quem também gravou os elogios, à estrada e à vila. “Estavam encantados e diziam que o tempo era pouco, que precisavam de mais tempo para ver mais coisas e por isso diziam que queriam repetir a experiência”, recorda Fernanda Marçal. 

O projeto desta rota reinventou muitos negócios, mas também reinventou a forma das pessoas verem o que é seu e, assim, descobrirem um país diferente que é alternativa à praia, ao litoral e aos locais de grandes massas, nota Aires Rodrigues, acreditando que “isto não é moda e terá um acréscimo de visitantes pelo que transmitiram as pessoas que por aqui passaram”.
Uma das visitas de relevo da EN2 neste ano de 2020 foi o Embaixador dos Estados Unidos. Esta é, recordamos, uma estrada feita por todo o tipo de gente. Desde atores a figuras públicas, de forma anónima, de forma organizada ou à procura de outras experiências. Na mala dos 739 quilómetros transportam-se sempre muitas histórias e muitas vivências. Em cada local de paragem há sempre conversas com os de lá, e Aires Rodrigues aproveita, na maioria dos dias, para sentir o pulso de quem ali estaciona que “fala acima de tudo das vivências que têm com os locais. Há muitos que fazem sem parar, só com o intuito de chegar ao fim, mas a maior parte faz durante uma semana e vai acompanhando as vivências dos locais, tentam sair dos núcleos mais urbanos e saem para visitar a realidade do centro e o interior do país, das aldeias”, explica.

Os sabores típicos de cá

E nesse afastar de dentro da EN2, há quem faça 10 quilómetros no concelho da Sertã para descobrir a Docinhos de S. Nuno, em Cernache do Bonjardim. Esta empresa, propriedade de Silvina Ladeiras, é a responsável por adoçar a boca dos visitantes ao confecionar os tradicionais Cartuchinhos de Amêndoa de Cernache do Bonjardim. São muitos os turistas da N2 que lhe batem à porta para, ao provarem esta iguaria, subirem ao céu e regressarem depois à estrada, tal é o sabor delicioso deste doce. “Um dia destes esteve aqui um casal que vinha do Algarve”, diz, confirmando que são exemplos destes que a fazem continuar esta arte tradicional que aprendeu com a D. Ausenda. Mulher experiente que lhe passou todos os conhecimentos necessários para ajudar a perpetuar a receita e fazer desta receita, um sucesso gastronómico. A massa estaladiça forrada com amêndoa, em formato de cone recheado com doce de ovos moles com amêndoa, fazem as delícias de qualquer um.

Quem para na Mercearia do Largo, tem oportunidade de fazer uma refeição ligeira, degustar o bucho, o maranho e outros pratos típicos do concelho e também de levar um pouco desta terra consigo. Naquele espaço peculiar e acolhedor há um sem número de experiências deste concelho que seguem viagem com o turista que, “por norma levam sempre qualquer coisa ou um íman, bolinhos ou compota. Há ainda as merendas, os coscoréis, o pão caseiro, licores ou aguardentes.
Um dos pratos identitários do concelho da Sertã é o maranho. Hoje em dia, qualquer restaurante tem, obrigatoriamente, esse prato nas ementas e não podia deixar de ser de outra forma, como diz Carlos Marçal, proprietário do Restaurante Santo Amaro, também um espaço à beira da N2.
Dentro da vila, à beira da ribeira e com vista para a Ponte Romana, está precisamente o restaurante Ponte Romana, um dos espaços escolhidos para o repasto e o maranho não pode deixar de ser aconselhado, lembra Pedro Cardoso, filho dos proprietários. O maranho não é propriamente uma iguaria de que se goste à primeira dentada. O sabor forte a hortelã agrada a muitos mas é rejeitado por outros. “Temos que explicar como é feito. Olham para o maranho como um enchido mas não é. Pode ser como entrada ou prato principal. É positivo, garante e “tem sido muito importante para o turismo da Sertã. Conseguimos ter turistas o ano todo e não só no Verão”, sublinha, ciente de que “consoante a divulgação da estrada, mais turistas virão”.

O descanso à beira da N2

Quem para na Sertã, descansa os olhos nas ribeiras e o corpo na calma deste território. Cátia Santos é comercial do Hotel da Montanha em Pedrógão Pequeno. Esta unidade hoteleira, virada para a barragem do cabril, é a que mais perto está da N2 e a que os visitantes mais escolhem para pernoitar e também aqui, o verão foi o ponto alto do ano.
Face ao cliente normal, a N2 acarreta ao Hotel da Montanha mais 2 a 3% de clientes. O local onde está instalado é, por excelência, excelente, “uma vez que o visitante não tem que desviar da rota para parar”, refere.
O turista da N2 é, por norma “descontraído, interessado em conhecer e explorar mais este território. Pede informações do que pode visitar” e por isso há que lhe satisfazer o desejo para que regresse noutra ocasião, explica Cátia Santos, notando que “temos que estar ao nível do expectável e temos a preocupação de ter flyers informativos e ter a certeza que o cliente tem tudo o que precisa para explorar a região”. “Esperamos que, com a divulgação e o passar da palavra, o próximo ano seja melhor e as pessoas parem para descobrir mais”, aguarda Cátia Santos.

O caminho que falta percorrer

Nesta N2 não há lugar a ultrapassagens. Há espaço para circular lado a lado ou mesmo ceder a passagem. Há via para ver o que mais importa, um interior sem filtros, que filtra o que é ruim e oferece o que de melhor tem. Mas nesse melhor ainda há um caminho a fazer por todos, principalmente por parte das autarquias.

A Sertã está, no entender de Aires Rodrigues, a fazer um bom trabalho “tem-se esforçado para perceber quem vem. Aborda as pessoas para que fiquem na Sertã e sejam bem recebidos pois são pessoas que podem ser influenciadores de opinião”, explica. Menos bem está a sinalização e Aires Rodrigues considera igualmente que era bom ter “um posto de atendimento para os visitantes desta estrada”. De resto, a Sertã “é fortíssima em termos de restauração e isso faz a diferença em relação à restante região”, remata o empresário.
Há assim, de acordo com Pedro Cardoso, Fernanda Marçal, Aires Rodrigues, Silvina Ladeiras e Cátia Santos, que continuar a divulgar esta estrada para que o visitante continue a visitar a N2 e a parar na Sertã.
Por entre serras longínquas e longas planícies, esta via há-de continuar a surpreender e a manifestar-se como uma experiência única e diferenciadora. Num país desconhecido para muitos, a EN2 desafiará sempre à descoberta.

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